Novidade exclusiva: André Dantas antecipando um pouco do que guarda para nós em seu novo livro.
Dialética da Modernidade I será lançado no ano que vem e o próprio autor fará os comentários no Clube, em novembro. Ah, que curiosidade!

Este é um livro sobre
história das ideias. Mais precisamente é um livro sobre o modo como as
transformações históricas pela quais passaram as ideias de Deus e de arquétipo
contribuíram para a gestação de ideias centrais à modernidade como as ideias de
indivíduo, natureza, sentimento, trabalho, ciência, estado e mercado. Isso
implica afirmar que a modernidade é um processo secularizante que nasceu
paradoxalmente a partir das mudanças no modo como a religião era encarada. A
religiosidade dentro da qual a modernidade foi gestada é muitas vezes pensada
como um detalhe extrínseco. A tese desse livro afirma, ao contrário, que muitas
das ideias modernas surgiram como uma tentativa de resolver problemáticas
religiosas. A falta de compreensão do contexto religioso em que elas surgiram
impossibilita, então, uma compreensão mais aprofundada da sua razão ser, uma
compreensão do como, do por que e do para quê elas passaram a existir.
Esse estudo das teses filosófico-religiosas que
originaram a modernidade é feito partir de uma leitura dialética da psicologia
de C.G.Jung. Essa leitura dialética é necessária porque tanto Jung quanto boa
parte dos pós-junguianos trabalham com uma noção de arquétipo ainda muito presa
à imaginação. Isso faz com que a interpretação arquetípica funcione
amplificando temas a partir de mitos antigos. Muitas vezes isso resulta de uma
confusão entre as imagens arquetípicas e o arquétipo em si que faz com que a
mitologia, uma dentre as muitas formas de manifestação do arquétipo em si, seja
privilegiada e elevada acima das outras passando, então, a ser utilizada para
medir o grau de arquetipicidade das outras imagens. Essa concepção estreita de
imagem faz com que algo só seja reconhecido como uma imagem arquetípica se
aparecer de uma maneira personificada. Essa noção de arquétipo informada
unilateralmente pela anima deixa de lado um amplo espectro
de importantes fenômenos modernos, porque eles não se prestam a tal tipo de
amplificação mítica. O estilo de pensamento imaginal baseado unilateralmente na
anima não consegue enxergar as nuances das engrenagens internas desses
fenômenos e, por isso, prefere ignorá-los. Nas poucas vezes que se debruça
sobre eles a psicologia junguiana os imagina como novas versões de fenômenos do
antigo mundo mítico e ignora as descontinuidades e as singularidades desses
fenômenos. Uma noção de arquétipo regida pela sizígia como um todo levaria em
consideração o animus, o logos, a lógica da própria noção de arquétipo
liberando, então, essa noção da necessidade de aparecer personificada em um
mitologema. Isso amplia os horizontes interpretativos da teoria, pois ela passa
a enxergar melhor os detalhes de diversos aspectos que compõem os fenômenos
modernos como, por exemplo, a iconoclastia, o mecanicismo, o desencantamento da
natureza, a instrumentalidade científica e a disciplinarização do trabalho.
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