segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

André Dantas comenta seu novo livro

Novidade exclusiva: André Dantas antecipando um pouco do que guarda para nós em seu novo livro. Dialética da Modernidade I será lançado no ano que vem e o próprio autor fará os comentários no Clube, em novembro. Ah, que curiosidade!


Este é um livro sobre história das ideias. Mais precisamente é um livro sobre o modo como as transformações históricas pela quais passaram as ideias de Deus e de arquétipo contribuíram para a gestação de ideias centrais à modernidade como as ideias de indivíduo, natureza, sentimento, trabalho, ciência, estado e mercado. Isso implica afirmar que a modernidade é um processo secularizante que nasceu paradoxalmente a partir das mudanças no modo como a religião era encarada. A religiosidade dentro da qual a modernidade foi gestada é muitas vezes pensada como um detalhe extrínseco. A tese desse livro afirma, ao contrário, que muitas das ideias modernas surgiram como uma tentativa de resolver problemáticas religiosas. A falta de compreensão do contexto religioso em que elas surgiram impossibilita, então, uma compreensão mais aprofundada da sua razão ser, uma compreensão do como, do por que e do para quê elas passaram a existir.
Esse estudo das teses filosófico-religiosas que originaram a modernidade é feito partir de uma leitura dialética da psicologia de C.G.Jung. Essa leitura dialética é necessária porque tanto Jung quanto boa parte dos pós-junguianos trabalham com uma noção de arquétipo ainda muito presa à imaginação. Isso faz com que a interpretação arquetípica funcione amplificando temas a partir de mitos antigos. Muitas vezes isso resulta de uma confusão entre as imagens arquetípicas e o arquétipo em si que faz com que a mitologia, uma dentre as muitas formas de manifestação do arquétipo em si, seja privilegiada e elevada acima das outras passando, então, a ser utilizada para medir o grau de arquetipicidade das outras imagens. Essa concepção estreita de imagem faz com que algo só seja reconhecido como uma imagem arquetípica se aparecer de uma maneira personificada. Essa noção de arquétipo informada unilateralmente pela anima deixa de lado um amplo espectro de importantes fenômenos modernos, porque eles não se prestam a tal tipo de amplificação mítica. O estilo de pensamento imaginal baseado unilateralmente na anima não consegue enxergar as nuances das engrenagens internas desses fenômenos e, por isso, prefere ignorá-los. Nas poucas vezes que se debruça sobre eles a psicologia junguiana os imagina como novas versões de fenômenos do antigo mundo mítico e ignora as descontinuidades e as singularidades desses fenômenos. Uma noção de arquétipo regida pela sizígia como um todo levaria em consideração o animus, o logos, a lógica da própria noção de arquétipo liberando, então, essa noção da necessidade de aparecer personificada em um mitologema. Isso amplia os horizontes interpretativos da teoria, pois ela passa a enxergar melhor os detalhes de diversos aspectos que compõem os fenômenos modernos como, por exemplo, a iconoclastia, o mecanicismo, o desencantamento da natureza, a instrumentalidade científica e a disciplinarização do trabalho.

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